O respeito pela natureza e o trabalho agrícola é determinante em Catarina Vieira. Já lhe dizia o pai, engenheiro e empresário leiriense, fundador do grupo Movicortes, a terra é o maior valor, nunca se vende. À convição de alicerce paterno acrescem os afetos construídos na infância, quando a mudança dos pais de Lisboa para Leiria a levou a viver uma temporada com os avós, numa casa onde só se comprava arroz e bacalhau. Tudo o resto vinha da terra ou do curral. E das vinhas para onde o avô paterno a levava, montados os dois na bibibleta.
Escolhas e circunstâncias fizeram de Catarina Vieira agrónoma, viticultora e empresária, mas estaria igualmente bem se tivesse sido professora e investigadora. Catarina gosta de mergulhar no assunto, aprofundar conhecimento, fazer bem. É esta exigência que está plantada nas vinhas da Herdade do Rocim, mesmo que nem sempre tenha sido fácil. Quando assumiu a liderança do projeto, em 2002, depois de um ano na Universidade de Bolonha onde fez o estágio e o trabalho final de curso, Catarina viu-se insegura frente a práticas teimosamente mantidas e contrárias a tudo o que aprendera. A consultoria de professores da universidade que a marcaram desatou o nó e deu-lhe a confiança que convence equipas.
Percebe-se, neste contexto, que considere um privilégio ter ficado quatro anos na herdade, só na vinha, entre bacelos e porta-enxertos, a plantar e a formar equipa, a podar. A fazer medições na vinha, às três da manhã e, às seis, regressar para colher bagos de uva. Dias a fio. Foi como fazer uma tese sem canudo. Na solidão calma do céu alentejano e com tempo para gargalhadas cumplices com o feitor.